Outro dia antes de Vinicius de Moraes, aquela
fera da música completar seus 100 anos, um dia antes, me vi em plena viagem
sideral, rememorando seus feitos e a minha trajetória neste Brasil de Deus. Por
quais lugares havia passado, com quem estive trombando e convivendo sem neuras,
stress, ou outra palavra salgada de nossos dias. Eu assistia um documentário na
TV Brasil e conforme os personagens iam desfilando as histórias e as imagens
mostrando os locais, eu ia delirando e vibrando extasiado e ao mesmo tempo
alucinado. Cidadão Vinicius, poeta e diplomata, anos 60 e prá frente, sujeito
de muito amor e com muito amor a dar. Afinal foram nove casamentos e bem
cantados. Lembrei também de um outro sujeito. O catalão, Pablo Picasso, que
também viveu uma vida de amor. Pablo não cantou nem declamou, mas pintou o amor
a vida e as mulheres. Senhores do destino e das boas coisas da vida. Mas vamus
ao poetinha, Vinicius e suas musas e seu wisky e suas letras e suas músicas. No
documentário só fera desfilando e comentando acerca dele e com louvor. Desde
Antônio Candido, Ferreira Gullar, Chico Buarque, que comenta coisas políticas e
reais, Caetano Veloso, Baden, Lyra, Lobo, Toquinho. Enquanto isso as cantoras
faziam a trilha mais linda que ouvi. Lizete Cardoso e João Gilberto, Miucha,
Bianca Byghton, Adriana Calcanhoto e Mônica Salmaso.
O Pier existia e os oitenta se aproximavam, mas
as Dunas do Barato, eram o local mais democrático de todo Brasil. Ali os
artistas, os milionários e os miseráveis hipies conviviam em total liberdade e
segurança. Lembro de várias investidas no pequeno pedaço de praia, onde
chegávamos de bolsas a tiracolo. Lembro também de um dia de chuva eu descer até
o Pier, recém chegado da Argentina. Um casal que precisava de fogo, ficaram
maravilhados com meus palitos de fósforo coloridos que acendiam em qualquer
lugar que se riscasse. Os palitos argentinos eram sucesso e enquanto isso,
debaixo da paliçada do Pier, Pepê, solo despencava nos drops. Eu com uma
máquina fotográfica e de lentes, não entendia muito do riscado. Mas ainda
existem umas fotos desse dia. Na foto acima de Gustavo Carrera a cena local com
Yso Amsler descendo as boas no outside.
Numa outra passagem, antes do carnaval, perdão na
véspera, o bar Garota de Ipanema, fumando e Vinicius tocando no som e eu
olhando as moças passarem na maior paz. Me chega uma beldade e pergunta se sei
quem tem uma Coca? Eu viajando no poeta e seus asseclas tocando, indico a tal
criatura, que era só falar com o garçon; na maior ingenuidade comercial. E não
é que deu certo! O tal cidadão indicou a moça onde ela podia encontrar e a
figura depois passou por mim agradecendo majestosamente. Coisas de
Ipanema.
Mas voltando ao filme, documentário, todos os
artistas envolvidos em declarações afirmam; “Chega de saudade” foi o marco de
uma nova música popular brasileira. Caetano é bem enfático sobre esse momento.
Sua irmã, Bethania, também dá boas declarações e comenta sobre a relação de
Vinicius e a Bahia. Uma vez na Bahia lembro bem que passei uma tarde em Itapoã,
graças a seus versos e música. A Bahia teve grande influencia sobre o poeta
assim como a “Garota de Ipanema”. Parabéns a Vinicius de Moraes por ter
existido e enriquecido nossa cultura com suas pérolas. Agora Chega de Saudade!